“Ele foi o meu primeiro filho, o primeiro neto rapaz e, na cara da minha mãe que me segurava a mão enquanto devagarinho acordava da cesariana, só vi muita doçura, um sorriso muito querido, uma voz muito confiante que me disse “tens um rapazão óptimo!” – apesar de ninguém ter percebido eu já tinha ouvido o médico dizer no corredor que ele tinha um “problema” e tinha trissomia, mas a força da mão da minha mãe e aquilo que me disse tão natural, tão assertivo, naquele momento fizeram com que eu o visse como o tal rapagão de que falava a sua avó – nem por um momento ela e o meu pai duvidaram de que ele seria capaz, e de que todos nós como família iríamos fazer tudo para ele ser mais um no meio dos outros netos, o nosso bebé tão esperado. Sem os avós que teve ele não seria como é. Quando morreu o meu pai ele tinha 18 anos, e disse à minha mãe: Avó não se preocupe, não fique triste que eu caso consigo, agora que o avô já cá não está, sou o neto mais velho e vou tomar conta de si!
Carmo Teixeira Turquin, 2016