O voto é a arma do povo. Ninguém tem nada a ver com o que se faz no boletim, faz-se e pronto, está mandado o recado. Um voto é um voto, não há votos mais decisivos e importantes do que outros, todos os votos têm o mesmo valor, os votos contam-se um a um. O voto do presidente do conselho de administração de um banco vale tanto quanto o de um trolha sem conta aberta. O voto igualiza-nos, liberta-nos, é por isso que mesmo sem saber distinguiria um dia de eleições de outro dia qualquer, bastar-me-ia andar na rua, nisto é parecido com o dia de natal. A minha filha foi votar pela primeira vez, porque quis. Eu perguntei-lhe – Queres ir votar? eu sim, respondeu-me. Eu não sabia bem o que fazer, este papel de pai tem destas coisas, a gente às vezes não sabe bem o que fazer. Ainda lhe perguntei uma segunda vez, – Queres mesmo ir votar? eu sim, respondeu-me de novo. Fomos.
Expliquei-lhe o básico – vais para a fila, levas na mão o cartão de cidadão e o de eleitor, quando chegar a tua vez entregas os documentos, recebes os boletins, diriges-te ao votatório, pões uma cruz no símbolo que escolheres, dobras em dois os boletins, diriges-te à mesa de voto, pões os votos na urna, recebes os documentos e vens-te embora.
O voto é a arma do povo, ninguém tem nada a ver com o que se faz no boletim, faz-se e pronto, está mandado o recado, um voto é um voto, os votos contam-se um a um, todos os votos têm o mesmo valor, o voto liberta-nos, o voto igualiza-nos. A minha filha votou, ainda hoje não sei em quem, a minha filha tem trissomia 21, votou porque quis, o voto da minha filha valeu tanto como o do presidente do conselho de administração de um banco, valeu tanto como o meu. A democracia também é isto. Obrigado, filha por mo lembrares.
José Cruz, 2014